20140108

Gonçalo is speaking # 21

[Carolina]
       C.:'OH CÉUS!!'
   Agarrei-o, como se a minha vida dependesse disso... e não dependia?
     C.:'Merda, Gonçalo! Acordaste!'
   Era visível a confusão que se tinha instalado na cara dele, eu apenas o abracei e depositei beijos por toda a cara dele, soluços acompanhavam as lágrimas que já caíam antes. Eu respirei fundo e tentava desesperadamente encontrar o botão para chamar a enfermeira, isso ou fazer uma cena ainda mais dramática no corredor, felizmente a segunda hipótese afastou-se quando o encontrei e cliquei naquela porra até encravar, o que fez com que não parasse de apitar. 
     G.:'O que... o que se passa?'
     C.:'Está tudo bem, já acordaste.'
   Quando a enfermeira entrou de rompante via-se o ar de preocupação na cara e a respiração acelerada de ter corrido até ao quarto, não hesitou em ligar ao médico responsável e em seguida examinou-o por alto antes que o mesmo chegasse. Aproveitei e liguei à mãe do Gonçalo, mal atendeu apenas me disse 'Eu sabia que ia ser hoje, estou a ir!' e desligou. 
     Médico:'Bem vindo de novo Gonçalo, sabes onde estás?'
     G.:'Hmm... Numa cama de hospital.'
     M.:'E sabes dizer-me porquê?'
     G.:'Não me lembro bem... Só me lembro de ir para a praia, à quanto tempo estou aqui?'
     M.:'Já à três semanas, tiveste um acidente e deste com a cabeça numa rocha, podes dizer-me que idade tens e o nome da tua mãe?'
     G.:'Tenho 18... A minha mãe chama-se Maria... Estive tanto tempo fora assim...'
     M.:'Conheces esta jovem?'
     G.:'Claro, é a Carolina.'
     M.:'Muito bem, pareces não ter sofrido nenhum dano permanente, mas vamos ter que ficar de olho em ti, podes experiênciar perdas de memórias mas a meu ver nada de grave. Vou-te deixar por agora, vê-se descansas.'
   O último aviso podia muito bem ter sido para mim.
     G.:'Ainda mais?'
   O Médico sorriu e fechou a porta atrás de si. A mãe do Gonçalo ainda não tinha chegado e apesar de ter ligado ao Bernardo concordámos que era melhor ele passar cá amanhã quando tudo já estiver mais calmo.
     C.:'Ainda não me acredito que já acordaste... Porra Gonçalo, nunca mais me faças isto!'
   Mordi o lábio e segurei as lágrimas que já ameaçavam cair. Estava tão feliz. Ele sorriu de olhos fechados e os seus gestos eram lentos, notava-se que estava exausto.
         G.:'Se te faz sentir melhor pensei muito em ti.'
     C.:'Falei bastante contigo, vi num filme que resultava, conseguiste ouvir-me ao menos??'
         G.:'Hmm... Desculpa desapontar-te, mas não passou nada para aqui, - sorriu de novo - ouvia algo mas não sei até que ponto era eu a imaginar.'
       C.:'Estou tão feliz! - agarrei-lhe a mão e rapidamente me arrependi quando vi dor espelhada na cara dele - Não te esqueceste de mim... Estava com tanto medo Gonçalo!'
         G.:'Impossível esquecer-me de ti Carolina, ainda não é óbvio?'
   Acenei com a cabeça e corei, lembrei-me do momento em que ele acordou a chamar por mim. Depois disso foi tudo uma confusão, a mãe dele chegou e seguidamente outros familiares que via de tempos a tempos quando o visitavam. Não dormi mais nessa noite nem no dia a seguir, fiquei sempre na cadeira que se encontrava ao lado da cama e se a mãe do Gonçalo não me trouxesse algo para comer bem que me ia passar despercebido. Podia sentir que a tristeza tinha abandonado o quarto, nas mobílias encontravam-se flores e cartões de melhoras e os sorrisos de quem entrava eram contagiantes. Olhá-lo e receber finalmente um olhar em troca fez-me sentir completa, abençoada. Ele era realmente tudo aquilo que eu precisava e nesse momento, quando o vi a sorrir pela milésima vez nesse dia, apaixonei-me mais um pouco por ele, era possível? Claro que era, ele tornou tudo o que eu achava impossível, possível. Ele pegou em tudo o que me rodeava e tornou-o bonito à sua maneira, à nossa maneira. Olho-o de maneira diferente, olho-o e sinto à flor da pele todos os sentimentos que lhe estão associados, a felicidade, o alívio, o nervosismo, o amor... Não o quero perder agora que o tenho.



   Alguns dias passaram e finalmente o Gonçalo teve alta, queria ter estado com ele durante todo esse tempo mas no meu interior eu sabia que havia algo que se tinha tornado prioridade, já que ele tinha acordado e estava bem. Passei esse tempo com o meu tio, quando lhe contei ele ficou radiante, mais do que já costuma estar. Passamos a tarde no prado que havia nas traseiras lá de casa, ele queria estar um pouco ao sol então ajudei-o a instalar-se numa espreguiçadeira. O tempo estava óptimo, a única árvore que se encontrava à nossa direita abanava com a brisa fazendo com que, por momentos, a sua sombra cobrisse a nossa cara. A relva e as flores davam-me pelo meio da canela, todas elas com variadas cores, apenas mais um dia normal no meio do verão. Não faltou assunto para falar e era por isso que gostava de passar tempo com o Carlos, foi sempre assim. Iria fazer-me falta e tinha a perfeita noção de que iria perder um pai, com o passar do tempo aprendi que somos nós que escolhemos a nossa família e sinto-me feliz por ter crescido ao lado de uma pessoa como ele. Ao jantar o Gonçalo mandou-me uma mensagem, já deve ter ligado o telemóvel. 
       *Tenho saudades tuas... Dá-me notícias, quero ver-te. Beijinho*
   Um sorriso formou-se nos meus lábios e senti-me como uma adolescente apaixonada novamente. Era bom receber mensagens destas, passou muito tempo sem as ouvir, sentia-me ainda com mais saudades e não hesitei em responder-lhe.
       *Amanhã?*
       *Sim, em minha casa. Estou ansioso! Até amanhã, beijinho*
       *Vou o mais cedo possível! Beijinho* - a enviar.

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